quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Me leva! dançando...


A imagem de pessoas dançando em público nunca saiu da minha cabeça. Nunca. Porém, ultimamente quando penso nisso, embarco com tanta vontade neste pensamento, que chego a me perceber ofegante quando me assusto e noto que nada do que está se passando está além dos meus pensamentos. E essa sensação tem ficado cada vez mais séria. Antes, quando eu estava caminhando no meio da multidão, anônimo, ou quando eu estava esperando no ponto do ônibus, eu começava a imaginar um casal dançando uma dança qualquer, assim sem música mesmo, no meio de todo mundo. Era fácil distinguir o que se passava na minha cabeça e o mundo real que estava ao meu redor. As pessoas andando, absortas em seus pensamentos ou em seus assuntos particulares e eu imaginando dançarinos. Tudo convivendo com harmonia.  Tudo indo bem. Eu respirando e expirando. Até que  um dia, depois de ter feito uma prova dessas bem cansativas, eu fui até uma estação de metro e mesmo tendo bancos disponíveis  resolvi esperar de pé.  Quando pisei na estação, vi um rapaz esbelto, bonito e ao mesmo tempo atlético também por lá, esperando, no seu mundo particular, articulando seus pensamentos. Só o vi, nada mais. Caminhei até a linha amarela, o limite de onde se pode andar e fiquei lá parado, deixando os pensamentos irem e virem da minha cabeça antes de chegar o trem.  De repente quando olhei para o trilho do trem, vi o rapaz executando passos de dança moderna. Meia ponta e torções. Sem música, mas com ritmo bem definido, suspendendo o tempo na estação do metro.  Aquilo foi de fato chocante, eu conseguia ver nos olhos do rapaz toda angústia que se podia vazar pelos olhos de um bailarino de dança moderna. Quando olhei para os lados, percebi que somente eu via o rapaz se arriscando nos trilhos do metro. Aquela coreografia tão essencial.  Quando o trem passou sem o menor receio sobre o rapaz, sem nem um piscar de olhos do maquinista e sem nenhum alarde  dos outros que estavam ali, eu não consegui respirar. Fui tomado por uma explosão interna que não poderia explicar. Até que o trem parou na minha frente, e quando olhei para o lado vi o mesmo rapaz que estava dançando nos trilhos entrar com a mesma cara que estava antes de tudo começar. Sem ter de fato dançado um segundo sequer. Eu ofegante. Impressionantemente ofegante. Invadido, transtornado. Indignado com fato de ter sido enganado por algo tão real, que na verdade não era real. Tivesse sido esta a primeira e última vez então. Mas não, isto foi se repetindo. E cada vez mais. Um outro dia, as pessoas começaram a dançar de forma tão contagiante no meio de todos, que quando acordei dessa estranha narcolepsia,  eu estava dançando sozinho em plena praça Raul Soares, ofegante. Ao lado da fonte que toca música clássica.


Estou me tornando um refém. Sem opções. Este relato pode ser entendido como um pedido de socorro. Cada vez fico mais tempo vendo essas imagens poéticas como se fossem concretas.  Tenho medo do dia que simplesmente não conseguir mais voltar a realidade das coisas. Medo de quando minha vida for totalmente absorvida por essas alucinações.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Inquieto, grito surdo


1:39 da manhã. Ainda não dormi. Já me deitei, mas ainda não dormi. Hoje sinto que só vou cair no sono quando for tarde demais. Amanhã vou trabalhar como um zumbi. Esperando pelo fim do dia pra chegar em casa e me deitar o quando antes e dormir. Dormir pra descansar o corpo que estará exaurido. Um zumbi. Não há saída. É insolúvel. Penso tanto, mas tanto que não encontro paz. É interessando pensar sobre paz, pois quanto mais eu envelheço, fica mais claro essa relação entre sono e paz. Um concreto o outro abstrato, os dois são confluentes de numa mesma corredeira. Essa inquietação, este estampido estacado do meu peito que vem comigo desde não sei quando é que me tira o sono. Ela que me põe em estado de suspensão.  Sinto que o ar que entra nos meus pulmões não chega a passar garganta abaixo. Como, inclusive, se ele não o pudesse fazer. Entra na boca, começa a passar pela minha garganta e logo vai embora, antes de alimentar meus pulmões. Como se ele não pudesse fazer isso. Absurdo. Os pulmões ansiosos sem tempo para o oxigênio. Acontece que  somente com ar nos pulmões é possível encontrar calma. Estou suspenso, vivendo um segundo plano. Vendo meu quarto de cima. Me vendo deitado na cama com o lápis na mão, com o papel apoiado nas minha magras e instáveis coxas. Ando tremendo muito nos últimos dias. Tremo pelo tanto que temo, me desculpem o trocadilho. Não relaxo. Não durmo. E amanhã, no trabalho, eu zumbi, nada estará resolvido. Nada será resolvido. As lacunas que não se preenchem.  

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Motivo

Extraordinário sair da minha habitual precariedade e me pegar pensando nessa imagem. que imagem? Hoje eu vi um grupo de pessoas dançando na rua. Sem público observando.
Por que elas dançavam então?

Não há um porquê.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

De promessa de ator a escritor fracassado

Amanhã é um grande dia, talvez por isso eu ainda não esteja dormindo. Tirei cópia de todos os meus documentos, todos. Foram quatro certidões de nada consta em bancos de dados de criminosos; fórum, polícia civil, polícia federal e cartório judicial. E como eu nem multa de transito tenho ainda, realmente nada constava contra mim. Tive a (falta de) sorte de, nesses quase dez anos de história com a arte, não me envolver em nenhum tipo de ação de contra cultura que terminasse em um noite na delegacia (oportunidade não faltou). Caso tivesse alguma passagem assim, provavelmente nas certidões de nada consta, constaria algo. Tirei cópia dos meus diplomas, da minha carteira de trabalho, dos meus comprovantes de votação. Se você me perguntar em quem eu votei nas eleições passadas, talvez se eu fizer um esforço sobre natural, eu consiga te dizer, mas os comprovantes eu ainda tenho. Guarde bem os seus comprovantes de votação, você pode precisar deles. É assim que funciona, se eu não tiver esses papeis nada funciona.

Agora está tudo pronto, eu munido com cópias e originais de todos os papeis que provam a minha existência legal. Amanhã, ou melhor, hoje, dia 14 de setembro de 2011, eu me apresento para iniciar o processo de posse da vaga do concurso público que prestei em 2010. Lá em 2010, quando comecei a estudar e me inscrevi nesse concurso, não fazia ideia do que poderia acontecer, do poder que isso teria sobre mim cerca de um ano depois. Vi um livro de concursos numa banca de revistas e pensei: “por que não?”. Pense bem antes de tentar uma prova de qualquer coisa, você sempre tem chance de passar. Mas as coisas são assim mesmo, pequenos acontecimentos que vão se juntando e se transformando em grandes eventos. Quando fazemos algo de grandioso esquecemos de considerar o que de pequeno também foi feito para que tudo acontecesse. Decidi tentar um concurso, comprei um livro com o conteúdo da prova, deixei um compromisso um dia, estudei um pouco mais no outro, almocei rápido para chegar na sala onde fiz a prova. Uma pequena ideia que gota a gota, transborda em uma reviravolta de vida. Eu pensei que se eu estivesse trabalhando com algo que me sustentasse eu ficaria livre para ser ator, para ser escritor. Para ser artista. “Artista”, nome mentiroso. O clima doce dessa palavra é diferente da sua realidade seca. Não há doçura em ser artista. Ser artista é seco.

Imaginando, tudo é tão mais possível. Eu gostaria muito de conseguir viver como os sonhadores que vivem num mundo de pensamentos, de projeções. Enfim, senhores... gostaria de me despedir. Roubando do seu tempo de leitura, venho somente pra me despedir. Dizer que o período da minha vida que passamos juntos, você, eu e as ideias, foi muito importante pra mim e que é eu vou sentir muita falta. Talvez eu volte, e se amanhã eu não te encontrar, que você tenha um bom dia, uma boa tarde e uma excelente noite.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sozinho em São Paulo

O quarto é pra sete pessoas, em breve chega mais gente. Um, dois, três... seis armários. Vou precisar de apenas um. Os perfumes, as roupas, os livros... quatro. Vou ler todos? Será? Tudo arrumado, com requintes de geometria. Tudo se encaixa, os livros, do maior para o menor empilhados, as roupas em uma monte uniforme. Os perfumes enfileirados. Tudo ocupando um devido quadrado. Tudo pode ser organizado em quadrados. O criado mudo é um quadrado. Um cone é um quadrado. As pessoas, quando chegarem vão ocupar suas camas e quando deitarem, quadrado. Deito na cama, quadrado, olho pro teto e nada. No teto, não tem nada, no quarto não tem nada, apenas quadrados. Uma respiração bem funda, duas respirações bem fundas, trinta respirações bem fundas. Descruzo os braços. Outra respiração bem funda, cruzo as pernas. Respiro de novo, pego um livro. Hora de me apropriar da realidade de outra pessoa. Pois quando leio, quando vejo um filme, quando assisto a uma pessoa que me conta um caso... me aproprio de comum acordo da realidade do outro, eu e o criador. Isso é bem curioso inclusive, o que fica na minha cabeça é o autor, o criador. Talvez por isso não acredito em Deus. Somos nós quem criamos, não Deus. Quinze minutos, trinta minutos, uma hora. Uma hora eu sempre paro. Outro livro? Não, afinal estou em São Paulo. A cidade de todas as tribos. Qual é a minha? Não sei. Tranco meu armário, desço do albergue. É tempo de tomar a cidade, me embebedar com ela. Rua Barão de Campinas, 94, centro. Próximo do metrô da república. Dez minutos de caminhada, uma parada numa banca de jornal e uma surpresa boa, o Carlton é vinte e cinco centavos mais barato. Ainda não sei disso, mas vou precisar muito de cigarro nesta viagem. Metrô lotado, é sempre assim? Gente por todos os lados, um pequena amostra de todas tribos. Antes ainda do trem chegar, fico de pé e reparo. Cada um escondido no seu universo tão particular. Alguns falam, mas a maioria das pessoas está em silêncio, assim como eu. Dentro do metrô começo a observar pra onde as pessoas estão olhando. A maioria está sempre olhando pro nada. Não tem nada no foco do olhar. Interessante. Será que é assim que se faz pra olhar pra dentro de si? Não sei. Saio do metrô e caio dentro de uma peça de teatro. Num prédio na Av. Paulista. De passante me transformo em público. Apenas nomes diferentes pra observador. A peça se chama “Caminhos”, é linda, me deixa a flor da pele. Não sei quem dirigiu, quem escreveu ou quem são os atores. Tudo bem, não preciso saber. Estar à flor da pele é estar perto do choro. Sem chorar. Bato muitas palmas, bate-se palmas pra dizer com as mão que se está à flor da pele. E assim, nesse estado emocional, tudo é tão invasivo, até o som das próprias palmas batendo forte. Desço do prédio, de novo Paulista. Tanta gente, por todos os lados, e já é noite. Tanta gente indo pra não sei aonde. Cada um escondido no seu universo tão particular. Me aconteceu tanta coisa hoje. Cones quadrados; Deus, um ser criado; gente de pé, em silêncio e parada; vida por todos os lados. Acendo um cigarro. Tanta coisa passando pela minha cabeça. Eu pensando e pensando e pensando... O que será que cada uma das pessoas que vi hoje está pensando neste exato minuto? Não sei.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Faz passar o tempo

Não há mais a mesma facilidade. É impressionante como gente se imbeciliza com o tempo. Cada vez mais torna-se ignorante, sobre a própria existência. Me aventuro a dizer que é por isso que fumamos. Fumamos com os pulmões, fumamos com os braços. Fumamos pra consumir nosso oxigênio com algo menos importante que simples devaneios.

Nós, os homens, somos como as mulas, que apenas vivem. Como os camelos. Apenas vivemos. Estamos inertes numa eterna dança de afogar e boiar, afogar e boiar, assim _-_-_-_-_-_.

Um dia quem sabe conseguiremos olhar isso tudo como quem espia pela fechadura do próprio quarto. Essa prisão não mais será parte de nós.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sozinho no quarto

De tempos em tempos eu me calo pra ver passar a tempestade. Pra ver passar a tempestade. Instala-se, assim, um silêncio absurdo.
no entanto,
ouve-se de longe o barulho marcado do relógio.